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quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

Redescobrindo Relíquias: d20 Apocalypse


À época, a editora Devir chegou a publicar o manual d20 Moderno apenas em espanhol, voltado para o mercado europeu, deixando o Brasil sem uma tradução dessa versão de D&D para cenários contemporâneos, apesar de seu SRD (Documento de Referência do Sistema) acabar tendo sido traduzido por aqui na forma do manual Ação!!! pela editora Trama, exceto pelas regras de Pontos de Experiência e Evolução de Personagem, conforme a licença OGL determinava.

Infelizmente as ideias de classes de personagem baseadas nos atributos e de níveis de personagem aplicadas a cenários modernos não fizeram muito sucesso, um problema devidamente solucionado pelos arquétipos heroicos e níveis de poder no RPG Mutantes & Malfeitores da editora Green Ronin, trazido para o Brasil pela editora Jambô.

Ainda que algumas regras não fossem as melhores, e mantivessem anacronismos para manter uma certa compatibilidade com D&D, por conta da licença OGL foram lançados pela editora Wizards of the Coast alguns suplementos de menos de 100 páginas para o d20 Modern que realmente valiam a pena, como o d20 Past, para campanhas no passado recente, e o d20 Apocalypse, para campanhas em cenários pós-apocalípticos, o foco deste artigo.

Após o fim do mundo que conhecemos, seja por catástrofes naturais (como uma queda de meteoros), seja por acidentes tecnológicos (como em Chernobyl), por invasões alienígenas (como a do seriado Falling Skies) ou por eventos sobrenaturais (como o arrebatamento ou o juízo final), o sistema de rolagens de Riqueza para aquisição de bens e serviços perde completamente o sentido, sendo então substituído por uma cotação de Unidades de Troca baseada em dias de sobrevivência garantidos para cada item de alimentação, medicamentos, munição etc, cotação esta que varia conforme a atitude do negociante para com o protagonista. Interessante como um sistema de comércio assim também se encaixa para cenários pré-monetários, como o escambo entre desbravadores e nativos, o comércio entre povos pré-históricos, ou mesmo entre aldeias do início da era medieval, antes que as moedas de metais nobres cunhadas pelos reis voltassem a circular.

Também há regras para modificações em veículos, no melhor estilo Mad Max, além de regras para vasculhar ruínas em busca de itens aproveitáveis, e regras para consertar equipamentos defeituosos com peças avulsas improvisadas. Acredito que qualquer cenário decadente, inclusive futurista, pode tirar proveito de tais mecânicas de jogo, que dão um toque de precariedade às cenas.

É lógico que são regras Old School, cheias de tabelas que listam cada possibilidade, ainda que tragam alguns valores abstratos, como fruto da proliferação do sistema d20 sob a licença OGL, bem diferente da onda dos Indies narrativos, porém, considerando que os RPGs mais jogados ainda são D&D ou algum de seus clones OSR, como Lamentaions of the Flame Princess, ou versões atualizadas, como Pathfinder, ressuscitar regras tão boas ainda compatíveis com tudo isso é um tesouro inestimável de aventuras fora do comum!