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sexta-feira, 7 de maio de 2021

Enjoamos mesmo de Fantasia Medieval ou sentimos falta de algo?

Eu acreditava ter enjoado de D&D e de seus congêneres por causa do gênero de Fantasia Medieval em si, contudo, se esse fosse mesmo o problema, eu não iria nem atrás de terminar de assistir a trilogia do Hobbit de Peter Jackson, nem mesmo me deliciaria com a leitura - e a consequente vontade de jogar RPG - dos bons e velhos manuais da segunda edição de AD&D.

Uma joia perdida num
verdadeiro mar de lixo editorial

Tendo feito uma certa arqueologia (principalmente aqui e acolá) nos primórdios do RPG, percebi que o rumo dado pelo Gygax e turbinado pela Wizards of the Coast é que denigriu as vertentes mais mitológicas e simbolicamente satisfatórias do nosso querido passatempo, em nome do desenvolvimento de um produto cultural mais amarrado e vendível para reprodução em massa. Agora não me admira mais eu ter parado de jogar RPG em geral e especificamente D&D quando do lançamento da terceira edição nos idos dos anos 2000, às vésperas deste nosso terceiro milênio do calendário cristão. Não obstante o alívio pelos já naquela época procrastinados aprimoramentos da mecânica lúdica, é muito complicado encontrar alguma pérola de satisfação mitológica na profusão de matéria cultural excretada sob a égide da licença aberta D20. Voltando no tempo também pude contemplar o quanto as exigências estéticas absurdas pelo melhor design tem inibido toda uma geração de novos criadores de jogos em nosso país, pela preocupação com uma boa apresentação antes e acima de um bom jogo. Não é à toa que temos tantos HD externos e estantes cheios de livros bonitos, e tão poucas mesas de jogo com os mesmos jogos de sempre, ainda que em suas versões mais recentes. Boa aparência sem substância pode até chamar bastante atenção para enganar nas vendas, porém não sacia nossas imaginações. Nós brasileiros sofremos do mal de querermos ser profissionais sem termos sido amadores primeiro.

No decorrer dos anos, o próprio Gygax teve de abrir mão de muitas ideias libertadoras pensadas por ele e sua equipe, principalmente pela dificuldade em traduzir liberdades narrativas em mecânicas de jogo de forma considerada justa e equilibrada pelas associações de jogadores. Afinal, de onde vêm tantos itens mágicos encontrados nos tesouros saqueados pelos personagens bandoleiros assassinos (do inglês Killer Hobos) protagonizados pelos jogadores, se mal há regras para que esses mesmos personagens ou mesmo os coadjuvantes revendedores interpretados pelo mestre do jogo os produzam numa proporção pelo menos próxima àquela em que são encontrados por aí? E cadê aquelas poderosas relíquias e artefatos criados pelas próprias entidades cósmicas de outros planos? Haverá finalmente D&D sucumbido às renitentes queixas dos neopuritanos pentecostais norteamericanos desde a época em que aquele jovem Tom Hanks se perdeu nos labirintos de sua demência?

Confesso que após o desgosto com os avançados retrocessos da quarta edição daquele jogo que eu tanto gostava, eu não me convenci a aderir ao D&D Next de quinta, mesmo que este prometesse retrocompatibilidade com aquele material com o qual eu tanto gostava de desperdiçar meus dias sozinho durante a semana ou tão bem acompanhado no auge da minha adolescência. Era mais fácil eu voltar a usar aquele material do que entrar na nova onda do momento. Só que também era outra realidade, que não volta mais e talvez nem meus filhos tenham chance de vivenciar, na qual aquele jogo encrencado e desarranjado mais atrapalhava do que servia de desculpa para nos reunirmos.

Precisamos de muito pouco para sermos felizes, apenas do essencial, e ainda que nos empolguemos com o desafio de explorar civilizações alienígenas em infinitos corpos estelares sorteados, basta a maravilha de contarmos uma boa história juntos para nos sentirmos contentes.

2 comentários:

  1. Eu nunca gostei de fantasia medieval...

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    1. Não vou insistir que dê uma segunda chance ao gênero fantástico, mas sugiro que busque então o que mais lhe agrada em termos de RPG e incentive seu crescimento na cena do RPG. Assim haverá mais do que você gosta e menos propaganda (ainda que negativa) do que não é de sua preferência.

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