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terça-feira, 19 de março de 2019

Encontro D30 "Música", o que mestrar

Mais uma vez o Grupo D30 de promoção e divulgação do RPG na capital do Brasil nos desafia com um novo tema para seu Encontro bimestral: Música!

Matutando qual mesa levar para o Encontro, minha primeira opção natural foi "The Galactos Barrier", no ignorado sistema Amazing Engine, da saudosa TSR, por conta de seus poderes cósmicos baseados na Música das Esferas e em sua harmonia, melodia ou dissonância. Eu poderia mestrar a aventura pronta que vem no próprio manual e apresentar essa ópera espacial à la Star Wars como parte da história do passatempo, porém decidi fazer um brainstorming antes de optar por um mero sistema tradicional obscuro.

Lembrei-me então que o suplemento Mecha & Mangá do sistema Mutantes & Malfeitores traz regras alternativas de "combate" para performances musicais pela conquista de um público ouvinte. Outra opção neste mesmo sistema seria criar um grupo de seres superpoderosos com tema acústico: um vilão que usa ressonância para demolições, um herói capaz de induzir transes hipnóticos por meio do ritmo, outro capaz de alterar os ânimos com sua música, outro capaz de usar o efeito terapêutico da música sobre os insanos, outro capaz de gerar alucinações psicodélicas com seus ruídos binaurais, outro capaz de projetar sua voz como ventríloquo a grandes distâncias e de imitar qualquer pessoa ou efeito sonoro. Duas opções muito empolgantes, a primeira poderia se passar num Anime de bandas colegiais rivais de festivais, a outra, num super-universo alternativo de quadrinhos ocidentais. Ambos demandariam muito preparo para menos de uma semana de prazo. Continuei o brainstorm.

Que tal basear a aventura one-shot numa música favorita minha? Talvez os Countries de Hank Williams e aquela balada "A Taste of Honey" dos Beatles deem um belo Faroeste! Seria uma boa ocasião para experimentar aquele RPG narrativo com cartas de pôquer, o Dust Devils, que comprei faz algum tempo. A princípio parecia um sistema simples e diferente, porém, quando o peguei para ler, desanimei pela complexidade na construção prévia de personagens únicos, o que tiraria dos jogadores parte da experiência de identificação pessoal proposta pelo jogo, e pelos atributos na ficha de personagem não trazerem nenhuma novidade além do uso do baralho de pôquer e de suas fichas de aposta.

Outras músicas que eu também gostaria de adaptar para uma aventura de RPG seriam as do Raul Seixas, todo um universo próprio, ou as dos Mutantes, principalmente "2001" com seus caipiras espaciais. Ambas escolhas dariam aventuras cômicas, tendo, portanto, como sistema o meu Mequetrefes. Descartei o "Raulverso" por não saber nem por onde começar, e a dos Mutantes por não oferecer muito conteúdo para a aventura, apesar da ótima ambientação. Voltaram para a gaveta.

Então resolvi seguir o caminho inverso e pensar no sistema de jogo que eu gostaria de utilizar para depois pensar na ambientação musical mais adequada. Tenho me interessado pela quarta edição de GURPS, ele é completo e pode simular qualquer realidade! Que tal se os personagens dos jogadores formassem uma banda de Rock, cada um com seu instrumento ou vocal e a aventura fosse a luta pelo sucesso, contra as opiniões da família, a estabilidade no emprego formal, as negociações com compositores, arranjadores, empresários, olheiros, produtores, gravadoras, aluguel de estúdios, direitos autorais e plágios, outros calouros em festivais de música, abertura de shows, fã-clubes, groupies, turnês, aulas de música como renda extra, etc. Seria uma baita aventura, sem tiroteios nem artes marciais, mas não para ser preparada em menos de uma semana. Gaveta!

Quis testar meu sistema D20 pacífico, Cidadania & Civilização, e pensei como seria aplicado ao Mercado do Entretenimento musical, mas logo descartei pelo preparo sem prazo, pois o sistema ainda é apenas um protótipo. Gaveta!

Talvez aquele manual do 4D&T que eu sempre quis experimentar, por que não um grupo Super Sentai com cinco (ou sete notas musicais) heróis coloridos contra Funk Karioka, o Imperador Galático do Mau Gosto? Muito trampo, pouco tempo. Gaveta!

Voltei para meus sistemas próprios. Que tal aquele meu RPG Gramatical com seus dados adverbiais, numa aventura atrás de rimas dentro da métrica? Seria incrível, mas é muito conceitual para um Encontro aberto ao público, talvez quando pintar um evento para game designers. Gaveta!

Já sei! Agora que entendi a lógica do Dust Devils, posso tentar botar em prática meu sistema TRUCO! para o cenário Tropeiros e Carreteiros, baseado no repertório musical caipira de Tião Carreiro e Pardinho! Só de lembrar da playlist já tenho altas ideias de buscas e desafios para a aventura e o sistema narrativo é simples e emocionante o suficiente para ser testado com um grupo pequeno de jogadores! Sistema próprio e músicas preferidas dentro do tempo hábil! Perfeito! Vou até investir num novo chapéu de boiadeiro para usar no dia do jogo!

Pronto, eis um exemplo do meu processo decisório antes de mestrar em algum evento temático. Quando fico sabendo bem antes, me arrisco até a criar novos sistemas de jogo específicos para o tema do evento, como se fosse uma Game Jam pessoal. É isso. Nos vemos no próximo Encontro D30!

segunda-feira, 7 de janeiro de 2019

Caubói do Infinito: Prólogo

Foram-se dois anos terrestres desde a troca de 77.455 dos meus méritos - mais que metade de todos meus confortáveis benefícios herdados e reaplicados - para encomendar a construção do cargueiro neste modesto estaleiro de Classe III. Espero uma boa taxa de retorno do investimento ao longo dos próximos anos.

Era o menor projeto padrão possível, com 150 m³ de tamanho e aproximadamente 44 m³ de carga útil e capaz de transportar pouco mais que 164 toneladas em seu compartimento de carga, além de possuir cabines econômicas suficientes para 4 passageiros e 2 tripulantes e, ainda assim, eu terei mais 9 anos terrestres de méritos descontados mensalmente antes que a astronave seja minha de fato.

Pelo menos sua configuração modular me permitirá ampliá-la gradualmente até mais de 2 mil vezes seu tamanho, conforme o sucesso nos negócios deixar ou exigir, mas acredito que muito antes disso devo estar trabalhando em comboio para distribuir melhor meus fretes.

Por enquanto, me contentarei em carregar passageiros pouco exigentes e cargas de menor densidade entre convenções permanentes em estações orbitais ou colônias em planetoides de baixa gravidade, pois minha nave não tem reforços nem compensadores gravitacionais para mais que 1 gravidade de aceleração (mesma aceleração que a queda-livre próximo à superfície terrestre), nem tubos de passagem ou câmaras de compressão próprios para me conectar a outras espaçonaves em trânsito ao longo do caminho.

Posteriormente, conforme a demanda, decidirei se melhoro as acomodações para mais passageiros ou tripulantes, ou se amplio a capacidade de carga e a potência dos reatores de dobra dimensional para cobrir distância maiores que 10 parsecs (em torno de 32,6 anos-luz) em menos tempo que 1 dia terrestre inteiro.

Mal posso esperar pelo meu primeiro frete, apesar de estar sozinho a pilotar em turnos de revezamento com o piloto-automático do computador de bordo.


Caubói do Infinito é o registro fictício de uma série de jogos solo de RPG no sistema GURPS 4ª Edição, tendo o emulador Mythic como mestre de jogos. A nave desta publicação foi construída com base no suplemento GURPS Viagem Espacial 3ª Edição.