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quinta-feira, 8 de outubro de 2020

Caro Mediador-Mor

Estive a meditar sobre o melhor conteúdo curricular para nossos viajantes de mundos, não só no que diz respeito à sobrevivência nos mais diversos e hostis ambientes, mas principalmente quanto ao contato e barganha com seres de culturas alienígenas.

Como as diferenças culturais e tecnológicas entre os povos são praticamente imprevisíveis, mais até do que eram entre as nações humanas originais do remoto planeta-natal de nossa civilização, poderíamos comparar esse dilema ao de um hipotético viajante do tempo sujeito a naufragar tanto num mundo primitivo ou arruinado, quanto numa época avançada e complexa. Qual o treinamento essencial exequível para que estivesse preparado para lidar com condições sociais tão extremas?

Cheguei à conclusão de que o hipotético náufrago temporal não deveria se fundamentar no que há de acidentalmente momentâneo - como são as moralidades ou estéticas de cada época -, embora devesse ainda desenvolver certa adaptabilidade e tolerância independentemente de suas preferências pessoais. Melhor seria que se orientasse pelo que há de mais eterno nesta realidade existencial, o que incluiria tanto os ensinamentos tradicionais que resistiram ao tempo, quanto as coincidências entre as mais díspares culturas em desenvolvimento mutuamente segregado.

Para o contato com colônias transumanas isoladas, considero ideal aconselhar suas condutas pelos clássicos do período dos Impérios Maurya e Gupta da antiga Índia, principalmente no estudo das 4 (quatro) ciências, com ênfase especial nas práticas sânitas, a fim de conquistar poder na sociedade, ainda que o estudo das 64 (sessenta e quatro) artes hedonistas lhe assegure mais conforto e bem-estar pessoal independentemente do meio cultural circundante.

No caso de contatos imediatos com assentamentos de formas de vida e de consciência completamente inumanas, recomendo aconselhar suas condutas pelo Clássico do Curso e da Virtude, pela universalidade de sua filosofia de vida, ainda que as anteriormente mencionadas práticas sânitas também sejam úteis e até necessárias para o ajustamento adequado de si mesmo, sem excessos ou insuficiências, em qualquer situação.

Também é muito importante o desenvolvimento de amplas habilidades de comunicação, que devem ir dos meios mais primitivos e violentos aos mais sutis e requintados, tanto na capacidade de compreensão de sinais, quanto na capacidade de ensino pela expressividade desses sinais, que podem assumir as mais variadas formas de acordo com os aparatos sensoriais de cada espécie, exigindo alguma órtese ou prótese sensorial em alguns casos.

Espero que essas orientações sejam úteis na formação dos futuros tripulantes, bem como na reciclagem e especialização dos veteranos.


Cordialmente,


Herodes Barbosa

Diretor do Posto Avançado em Trapista-1g

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